segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Mercado Municipal do Rio de Janeiro em 1910


Dentre os locais mais movimentados do Rio de Janeiro dos primeiros tempos, podemos sem dúvida incluir a Praia D. Manuel, conhecida anteriormente como Praia e Porto dos Padres da Companhia por conta do colégio dos Jesuítas no Morro do Castelo, responsável pela maior parte da movimentação de pessoas e mercadorias que ali desembarcavam. O nome D. Manuel foi uma homenagem a D. Manuel Lobo, governador que chegou em 1679 e morreu no ano seguinte em uma prisão espanhola, após ter ido lutar no sul pela colônia do Sacramento (Uruguai).
 



No século XIX, depois da vinda da corte portuguesa, foi onde Louis Pharoux, escolheu para instalar seu conhecido hotel e restaurante, o qual era servido por um cais cujo nome persiste até hoje: Cais Pharoux.



Em 1873, a empresa do engenheiro André Rebouças recebe uma concessão para a construção de um novo cais entre o Cais Pharoux e a Ponta do Calabouço, mas a obra acabou sendo mesmo feita pelo governo imperial.

 
No final desse mesmo século, já instalada a República, surgiu a necessidade por um novo mercado naquela região, pois o antigo, situado na Praça XV onde é hoje a Bolsa de Valores, projetado por Grandjean de Montigny, já não atendia à demanda de uma população que muito havia crescido.




Após inúmeras marchas e contramarchas, que adiaram as obras por vários anos, o novo mercado é inaugurado em 14 de dezembro de 1907, com a presença do presidente Afonso Pena e do general Sousa Aguiar, prefeito do Distrito Federal, além de outras personalidades.




O edifício, de forma quadrada e com 150 metros de lado, ocupava uma área de 22.500 m2, tinha quatro torres nos cantos e uma torre central, e quatro portões monumentais com 14 metros de altura. O material do mercado, feito de ferro, veio da Bélgica, sendo a montagem supervisionada por representantes do fabricante. No interior da construção haviam 16 ruas, com um total de 1136 compartimentos para as lojas. Era vendido todo tipo de mercadoria, com destaque para gêneros alimentícios como carne, peixe, frutas, verduras, etc.



O novo mercado tornou-se rapidamente mais um símbolo da cidade, para o que contribuiu sua grande visibilidade, especialmente para quem chegava pelo mar. Foi cenário no filme "Orfeu Negro", de Marcel Camus, realizado em 1959, que é provavelmente um dos raros registros a cores do antigo mercado.





Mas o belo prédio sofreu morte precoce, não completando nem 60 anos de existência, sendo destruído no final dos anos 50 em nome da construção da Av. Perimetral, que na verdade não pedia sua demolição completa, só sendo necessário remover uma parte. Mas a tradicional vontade de destruir prevaleceu, embalada por uma espécie de demência daquela época que procurava justificar qualquer ato estúpido como esse como um progresso na direção de um futuro automobilístico. Essa tendência, embora enfraquecida, ainda está presente hoje em dia, e, junto com a especulação imobiliária, com certeza ainda irá causar muitos danos ao patrimônio histórico e coletivo da cidade.

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