Dentre os locais mais
movimentados do Rio de Janeiro dos primeiros tempos, podemos sem dúvida incluir
a Praia D. Manuel, conhecida anteriormente como Praia e Porto dos Padres da
Companhia por conta do colégio dos Jesuítas no Morro do Castelo, responsável
pela maior parte da movimentação de pessoas e mercadorias que ali
desembarcavam. O nome D. Manuel foi uma homenagem a D. Manuel Lobo, governador
que chegou em 1679 e morreu no ano seguinte em uma prisão espanhola, após ter
ido lutar no sul pela colônia do Sacramento (Uruguai).
No século XIX, depois da vinda da
corte portuguesa, foi onde Louis Pharoux, escolheu para instalar seu conhecido hotel
e restaurante, o qual era servido por um cais cujo nome persiste até hoje: Cais
Pharoux.
Em 1873, a empresa do engenheiro
André Rebouças recebe uma concessão para a construção de um novo cais entre o
Cais Pharoux e a Ponta do Calabouço, mas a obra acabou sendo mesmo feita pelo
governo imperial.
No final desse mesmo século, já instalada a República, surgiu a necessidade por
um novo mercado naquela região, pois o antigo, situado na Praça XV onde é hoje
a Bolsa de Valores, projetado por Grandjean de Montigny, já não atendia à
demanda de uma população que muito havia crescido.
Após inúmeras marchas e
contramarchas, que adiaram as obras por vários anos, o novo mercado é
inaugurado em 14 de dezembro de 1907, com a presença do presidente Afonso Pena
e do general Sousa Aguiar, prefeito do Distrito Federal, além de outras
personalidades.
O edifício, de forma quadrada e
com 150 metros de lado, ocupava uma área de 22.500 m2, tinha quatro torres nos
cantos e uma torre central, e quatro portões monumentais com 14 metros de altura.
O material do mercado, feito de ferro, veio da Bélgica, sendo a montagem
supervisionada por representantes do fabricante. No interior da construção
haviam 16 ruas, com um total de 1136 compartimentos para as lojas. Era vendido
todo tipo de mercadoria, com destaque para gêneros alimentícios como carne,
peixe, frutas, verduras, etc.
O novo mercado tornou-se rapidamente
mais um símbolo da cidade, para o que contribuiu sua grande visibilidade,
especialmente para quem chegava pelo mar. Foi cenário no filme "Orfeu
Negro", de Marcel Camus, realizado em 1959, que é provavelmente um dos
raros registros a cores do antigo mercado.
Mas o belo prédio sofreu morte
precoce, não completando nem 60 anos de existência, sendo destruído no final
dos anos 50 em nome da construção da Av. Perimetral, que na verdade não pedia
sua demolição completa, só sendo necessário remover uma parte. Mas a
tradicional vontade de destruir prevaleceu, embalada por uma espécie de
demência daquela época que procurava justificar qualquer ato estúpido como esse
como um progresso na direção de um futuro automobilístico. Essa tendência,
embora enfraquecida, ainda está presente hoje em dia, e, junto com a
especulação imobiliária, com certeza ainda irá causar muitos danos ao
patrimônio histórico e coletivo da cidade.